domingo, 20 de fevereiro de 2011

Apresentação


DEVIRES SUTIS
A fotografia e seu duplo


Pathos & Logos

O 'pathos da distância', oposição nietzschiana do 'amor ao próximo', não é outra coisa senão a transformação permanente da vida em obra de arte, fazendo da ética uma estética da existência e também da resistência.

Pathos é paixão, transbordamento, e foi apropriado pelas medicinas e classificado pelo Logos (razão) como doença, daí o termo 'patologia' ser aferida por esta ótica como tratamento e resignação. Logo, tudo aquilo que excede não pode ser inscrito na tabula rasa (empirismo) dos acontecimentos, por esta razão, legitima-se o tratamento para que a verdade seja mantida à devida distância dos efeitos nocivos da paixão e possa, enfim, reinar soberana e inatingível como uma ascese ultrajante.

Mas eis quem vem a arte e desmonta essa paixão triste (a verdade), colocando a vontade a serviço da potência inventiva e que faz abraçar esse êxtase represado a fim de libertá-lo da clausura do pensamento moral e do logos da razão exclusivista, este que cria couraças imobilizando a força daquilo que ela pode, submetendo-a à 'cura', oferecendo pretensas 'soluções' do seu problema. Como se não tivesse sido ela própria e suas estruturas a produzir o adoecimento para vender sua cura. Cria-se o pecado para vender a salvação intensificando a culpa.

Se patologia para a medicina é doença, para nós criadores de conceitos significa saúde, grande saúde. Pathos é, portanto, paixão, desmesura, afirmação plena da vida, onde sofrimento aqui não é gozo cristão, autocomiseração ou autoflagelação para expiar uma culpa gozosa. Sofrimento afirmativo é lançar-se ao intempestivo de suas forças e sangrar a cada nova produção, portanto, 'pathos-logos' nesta acepção é a reinvenção do sintoma, onde a dor não é mais vista como objeção, falha ou incapacidade de ir adiante, mas como potência do trágico e grande alegria.

Photos: nada a contemplar, tudo a experimentar.

A fotografia como experiência singular em nós surge tal qual uma brisa suave a jogar os cabelos para trás, um sorriso involuntário vítima de seqüestro e apenas libertado após pagamento de resgate. A fotografia é este delicioso roubo, não daquilo que se vê em qualquer canto, nem mesmo do que prolifera na rede, mas uma apropriação indébita de um instante não programado, a instalação da diferença por um olhar que só poderia ser o nosso.

Por isso a fotografia é para nós a expressão estética de um novo devir onde o que importa é sempre produzir a sensação sobre aquilo que se vê – e é visto. Mais do que suscitar conforto queremos produzir o pensamento a partir de produções autorais cujo olhar fotográfico é aquele que será atravessado por nossas lentes.

Na mesma esteira da arte como experimentação, o esporte será objeto de discussão imanente a partir de imagens vividas com a psicologia esportiva e também com nossa indefectível paixão por nossos times de futebol que, ao longo das postagens, não será difícil saber a quem devotamos nosso amor incondicional.

Portanto, trata-se de uma escrita viva, imagens do pensamento tão vivas que saltarão da tela e serão apreendidas pela visão e sentidas como sabor na boca. Um texto tão vivo cujas letras parecerão tocar a pele de quem lê ou mesmo cortar feito navalha na carne. Escrita assim excita os sentidos levando seu leitor à sua própria história a partir dessa experimentação real e viva.

Daí a fotografia ser eleita por nós como uma das linguagens de expressão de nossos devires experimentados, vividos ou tão somente imaginados. Sinestesia pura porque é ela quem os levará para além da usual e banal estética da cosmética – o hipnotismo do espelho narcisista.

Contagioso como o calor de um sentimento aferido, expressivo como o pathos de uma imagem (Riis), de um poema (Leminski) ou de um grito (Artaud), este blog convida seus leitores a sentir mais do que entender, a rir mais do que julgar, a pensar mais do que se entreterem, a falar 'com' e não 'sobre'.

Irlan Farias

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